Sylvester and Tweety in Cagey Capers


O Frajola não é o meu favorito entre os predadores famintos dos desenhos animados, mas o Piu-Piu provavelmente é a presa mais desprezível que eu posso me lembrar. O Ligeirinho até tem uma atitude legal, o Jerry sacaneia o Tom de forma explícita e o Papa-Léguas não faz nada além de correr e fazer beep beep, mas o Piu-Piu só se faz de tonto enquanto transforma a vida do pobre gatinho em um inferno. Então entre eles acho que o Frajola é quem mais merecia conquistar sua desejada refeição.

E, mesmo sabendo que eu nunca vou ver tal cena em algo oficial, eu não deixei de jogar Sylvester and Tweety in Cagey Capers para ajudar o bichano em sua missão.

Sylvester and Tweety in Cagey Capers

Desenvolvedora: Alexandria Inc. / TecMagik Entertainment

Lançamento: 1994

Plataforma: Mega Drive




Não existe uma história no jogo, é como se você estivesse em um dia qualquer na casa da Vovó tentando capturar o Piu-Piu. Claro que vamos mudando de cenário, encontrando diversos personagens que não vão com a nossa cara e etc, mas resumindo é apenas mais um dia comum na vida do Frajola.

Entre os inimigos encontramos a Vovó, o buldogue Hector e até o canguru Hipperty Hopper. É legal ver que o estúdio se preocupou em encontrar situações para colocar cada um deles.

Seria cômico se tivéssemos uma fase no México com a participação do Ligeirinho, mas não foi dessa vez.

...
E nunca vai ser, não é como se pudéssemos ter um novo jogo do Frajola e Piu-Piu.


Em cada nível o Piu-Piu se posiciona em um ponto do cenário e quando nos aproximamos ele vai para outro, até chegar no final da fase. Como ele é um pássaro às vezes os locais são de difícil acesso, nos obrigando a pular pelas plataformas do cenário ou empilhar diferente objetos para alcançá-lo.

Quem assistia o desenho deve lembrar de várias vezes em que Frajola realmente fazia isso, então é muito interessante ver o jogo adaptando essa ideia.


O modo como adaptaram a perseguição também é bem legal. Não exige que o jogador atravesse o cenário desenfreadamente e ainda aproveita muito mais o espaço, já que o caminho para o fim da fase é cheio de desvios. Dá para dizer que eles criaram o sistema perfeito para os personagens.

O maior incômodo no gameplay é que Frajola é meio "estabanado" em alguns movimentos, principalmente nos pulos, então atravessar o cenário pulando pelas coisas não é tão natural quanto deveria. Com o tempo vamos nos acostumando, mas deveria ser bem melhor que isso, principalmente para um jogo de plataforma.


Também temos a chance de coletar vários itens pela fase, como marretas, ossos, peixes e etc. Alguns são essenciais para avançar, enquanto outros nos ajudam a escapar de certas situações. O buldogue apareceu? É só jogar o osso! Ou pegue a marreta e se vingue de todas as surras que o Frajola já levou!

Frajola também pode arranhar, mas não é muito eficaz contra os inimigos grandes (por muito tempo eu achei que nem dava para atacá-los dessa maneira), serve mais para acionar botões e atacar o Piu-Piu.


Uma mecânica que eu considero sensacional é como o jogo lida com as mortes do Frajola: ao invés de morrer e voltar ao início da fase, como qualquer outro jogo de plataforma faria, um anjo sai de seu corpo e uma vida é subtraída, mas o jogador continua do mesmo ponto como se nada tivesse acontecido.

Sinceramente, não sei como isso não se tornou mais popular! É um sistema muito prático!

E além de funcionar muito bem ainda nos faz lembrar daquele episódio em que Frajola morre várias vezes e seus fantasmas ficam esperando as nove vidas se acabarem. A única diferença é que no desenho ele vai para o inferno, no jogo não. Acho que morrer é punição suficiente pro jogador, não precisamos saber que estamos mandando o bichano para o colo do buldogue-capeta.

E lembrando que o Frajola é um gato, portanto pode esquecer das míseras três vidas que os jogos costumam dar! Aqui temos nove vidas para gastar!


E já que estamos falando das vidas, falemos da dificuldade, que ao mesmo tempo é bem pensada e totalmente sem sentido.

Na parte bem pensada, ela pode ser definida pelo jogador num sistema de porcentagem. No 100% tudo estará contra você, enquanto no 1% o jogo praticamente te puxa pela mão. Mas ao fazer essa escolha você também define quantas fases vai jogar: a dificuldade mínima para jogar todas as fases é 81%.

É um sistema bem legal e funciona bem para a criançada treinar enquanto não consegue ir muito longe no jogo.


Por outro lado, a variação de dificuldade entre níveis não tem muito sentido. As quatro primeiras fases seguem um progresso normal, mas a quinta fase - baseada naquele episódio onde Frajola é assombrado por uma versão enorme e monstruosa do Piu-Piu - é consideravelmente mais difícil, de um jeito que você não vê chegando. Depois disso a sexta fase fica um pouco mais difícil, ainda usando o Piu-Piu monstro, e a última fase volta a ser fácil como as outras.

Talvez quisessem dar um alívio ao jogador depois de uma fase difícil, mas na prática não deu certo. A ideia do Piu-Piu monstro é interessante e realmente merecia estar no jogo, mas seria muito melhor se ele ficasse para a última fase, como um tipo de chefão. Seria um ritmo bem mais normal, além de que usar o monstro para duas fases acaba perdendo a graça, a segunda fase do monstro é a menos inspirada do jogo.


Visualmente o jogo é bom. Os cenários não são tão chamativos quanto outros jogos dos Looney Tunes, mas são bem vibrantes, e os personagens são fiéis ao material original e bem expressivos, com animações exageradas como um genuíno desenho animado.

O maior problema que eu vejo nos visuais é que nem sempre fica claro quais elementos do ambiente são sólidos e quais são apenas cenário. Só testando podemos descobrir onde dá para pisar e muitas vezes as escolhas são estranhas: na primeira fase, por exemplo, os quadros da parede e os batentes das portas são sólidos, mas as bases das janelas são apenas cenário.

São apenas sete fases e algumas fases compartilham a música, portanto são poucas as músicas no jogo. A maioria delas complementa bem o clima da fase - principalmente a sinistra música do Piu-Piu monstro -, então podemos dizer que a trilha sonora cumpre o seu papel.

Os efeitos sonoros são simples, todos bem caricatos e exagerados. Alguns parecem meio fora de lugar, como o som do Frajola batendo a cabeça, mas são poucos. Já as frases ditas pelos personagens saem de uma forma bem estranha, afinal juntar os problemas de dicção do Frajola com a capacidade limitada de áudio do Mega Drive não poderia dar certo, mas o jogo quase não tem diálogo e, de certa forma, é cômico vê-lo pigarrear "HEWO BWEAKFAST" ou "SUFEWIN SUWCOTASH" durante o jogo.

VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Excelente adaptação da ideia do desenho
• Sistema de vidas inteligente
• Visuais fiéis ao desenho

PONTOS NEGATIVOS
• Movimentos estabanados do Frajola
• Mudanças repentinas de dificuldade
• Alguns problemas técnicos no som e nos gráficos

Cagey Capers tem várias boas ideias. A perseguição é implementada no gameplay de uma forma única e várias sacadas do desenho original são bem aproveitadas.

Tem alguns problemas que podem afastar muitos jogadores e não se destaca entre os jogos de plataforma do Mega Drive, mas para quem gosta dos personagens vale a pena dar uma olhada, pois realmente é uma homenagem para os dois.

Comentários