Comix Zone


Imagine que você está criando uma história.

Você naturalmente cria um vilão que é o sujeito mais miserável, pestilento, sarnento, arruaceiro e gato polar que você consegue imaginar, certo?

Ou você cria um mundo tenebroso onde o perigo está por todo o lado e o herói nunca está seguro, certo?

E se a resposta for não para os dois, o que diabos você está criando? Uma comédia romântica?

Enfim, digamos que você tem um vilão que come filhotes de foca no café da manhã ou um mundo repleto de perversidade - ou os dois - quando então, de repente, você é sugado para dentro dessa história!

OH!

Talvez a comédia romântica era mesmo a melhor ideia.

Comix Zone

Desenvolvedora: Sega Technical Institute

Lançamento: 1995

Plataforma: Mega Drive




Sketch Turner é um desenhista de histórias em quadrinhos. Apesar do salário baixo, ele ama o que faz e está terminando seu próprio projeto, que se chama "Comix Zone".

Devo dizer que esse nome faz muito sentido para o jogo, mas nenhum para a história em si, que é pós-apocalíptica e envolve aliens, mutantes e robôs. É como se Fallout se chamasse "Game Zone".

Mas estou divagando.

Sketch está desenhando em uma noite tempestuosa quando um raio atinge seu apartamento e Mortus, o vilão da sua história, ganha vida. Ele deseja se tornar um garoto de verdade, que nem o Pinóquio, mas para isso seu criador precisa morrer, então ele lança Sketch - e Roadkill, o rato de estimação do desenhista - para dentro do gibi, esperando que os perigos de sua própria criação possam matá-lo.

Mas Sketch não é um nerdão molenga e não vai ser vencido tão facilmente! Dentro do gibi ele se alia à general Alissa Cyan - que acredita que ele é o "escolhido" para salvar o mundo - e começa a sua jornada para derrotar Mortus e voltar ao mundo real.

E ainda bem que Sketch fez um vilão que segue o cliché de não matar o herói quando vê a oportunidade, porque Mortus poderia fazer isso praticamente a qualquer hora do jogo com pouco esforço. 


Comix Zone é um beat 'em up, gênero do qual o Mega Drive já estava cheio, mas ele se distancia do padrão em diversos aspectos.

Você entra num local, bate nos inimigos que aparecem e então segue adiante, como em qualquer outro, mas o layout da fase não é uma linha reta, e sim uma página da revista. Você bate nos inimigos que aparecem no seu quadrinho, vai até o "limite" dele e Sketch então pula para o próximo.

Se olharmos o mapa de uma fase parece uma história mesmo, é muito legal!

Esse conceito de HQ na verdade deu espaço para muitas ideias legais. Cenários podem mudar de um quadrinho para outro, inimigos são literalmente desenhados diante do jogador, golpes geram onomatopeias, inimigos te provocam por balões de texto e etc. Dá para ver que a equipe se divertiu com as possibilidades.


O sistema de luta certamente não é tão sofisticado quanto o de outros, mas é satisfatório. Existe apenas um botão de ataque, mas com a ajuda dos direcionais podemos usar muitos golpes diferentes, desde socar ou chutar até agarrar um inimigo e jogá-lo para longe.

A movimentação pela fase é apenas lateral, não podemos nos mover para perto ou longe da tela. Isso diminui algumas possibilidades (o número de inimigos ao mesmo tempo, por exemplo, nunca é alto), mas também permite que os personagens fiquem bem grandes na tela, o que é bom.


Mas o jogo não é só pancadaria, em alguns momentos precisamos usar a cabeça. Certos quadrinhos têm armadilhas ou caminhos bloqueados e, para resolvê-los, precisamos usar alguns itens - como bombas ou o rato Roadkill -, objetos do cenário ou mesmo inimigos que estão dando bobeira.

Sketch também pode simplesmente socar a maioria desses obstáculos, mas fazer isso diminui sua vida, então não dá para chegar longe dessa maneira.

Até mesmo alguns inimigos podem ser vencidos de forma mais inteligente, principalmente os chefões. Descobrir como pode ser crucial para vencer o jogo.


O principal defeito de Comix Zone é ser curto. São seis páginas, divididas em três episódios, e isso acaba muito rápido. O jogo é caprichado e talvez não conseguiriam aumentá-lo mantendo essa qualidade, mas não deixa de ser um tanto decepcionante.

E diabos, como o Sketch conseguiu montar uma história interessante em apenas seis páginas?

O jogo também é bem difícil, talvez até para compensar as poucas fases. Ele não perdoa nada e, como eu disse antes, até mesmo socar objetos diminui a vida de Sketch.

Eu ainda entendo essa questão, pois geralmente isso acontece quando o jogador encara o obstáculo da forma errada. É melhor incluir essa punição, mas ainda dar a chance do jogador atravessar o quadrinho, do que deixar o jogador sem saída simplesmente porque desperdiçou o item necessário em outro momento.

Ainda assim, essa exigência de saber qual o item correto para a situação correta requer muita tentativa e erro. Ao jogar para fazer essa análise eu consegui zerar o jogo (e com o final bom!), mas foram tantas tentativas anteriores que eu me lembrava da maioria dos obstáculos e dos itens escondidos. Se não fosse assim eu certamente falharia.

E mesmo assim eu fiquei muito surpreso por conseguir!


Tecnicamente, o jogo mostra o Mega Drive no seu ápice.

Ele foi lançado em 1995, no fim da vida do console, o que permitiu que a equipe explorasse ao máximo o seu potencial. Aliando isso com a direção de arte - feita por pessoas que realmente trabalhavam com quadrinhos - temos os belos gráficos que vemos.

Os personagens são muito bem animados (mesmo os inimigos comuns) e os cenários são detalhados, coloridos e cheios de efeitos bonitos, como neve, chuva e objetos mais próximos da tela. Sem dúvida está entre os melhores visuais do console.

Os sons também aproveitam bem a capacidade do sistema. A trilha sonora é bacana e combina bem com o clima do jogo. As falas geralmente ficam só nos balões, sem áudio, mas os efeitos sonoros são bem feitos, desde as pancadas até os rasgos no papel, que reforçam ainda mais o tema do jogo.

Infelizmente esse lançamento tardio também impediu que o jogo fosse bem-sucedido e, assim, nunca recebemos uma sequência.

VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Conceito único e muito bem usado
• Mistura interessante de pancadaria e puzzles
• Ótimos gráficos
• Direção de arte marcante
• Carismático e bem-humorado

PONTOS NEGATIVOS
• Muito curto
• Requer muita tentativa e erro

Comix Zone consegue chamar a atenção mesmo entre tantos beat 'em ups de qualidade no Mega Drive. A Sega conseguiu adaptar todo um conceito e criar o que é praticamente uma história em quadrinhos jogável, usando e abusando da ideia de maneira genial e enchendo o jogo com carisma e personalidade.

Sem dúvida é um jogo que vale a pena conferir, seja por gostar de quadrinhos, de beat 'em ups ou de jogos únicos. No final ficamos querendo mais e é realmente uma pena que nunca fizeram um Comix Zone 2.

Comentários