Driver


É difícil acreditar que Driver um dia encarou Grand Theft Auto de frente. A série que hoje está deixada de lado (um jogo de barcos? SÉRIO?) podia ser considerada superior aos jogos da Rockstar, pois enquanto GTA 1 e 2 eram 2D e com a vista de cima Driver chegou oferecendo uma ideia parecida em um mundo aberto totalmente 3D, o que é muito mais emocionante.

Mas então Driv3r foi um fiasco, GTA III um sucesso e a Rockstar disparou na frente que nem o Papa-Léguas faz com o Coyote. Não resta mais esperanças para Driver, mas recordar é viver, e hoje recordaremos os dias de glória dessa série!

Driver

Desenvolvedora: Reflections

Lançamento: 1999

Plataformas: PlayStation e PC




O jogo nos coloca na pele de Tanner, um policial que se infiltra no mundo do crime como um piloto de fuga. Seu objetivo é se aproximar de um chefão da máfia, mas ele obviamente começa seus serviços com bandidos de baixo nível, assim ganhando fama e sendo contratado por outros criminosos.

No modo história passamos por diversas missões onde temos que ir de um ponto a outro do mapa, geralmente dentro de um tempo específico. Também não podemos concluir a missão sendo perseguidos pela polícia, então temos que despistá-la antes de chegarmos com sucesso no nosso destino.

Essa fórmula envelhece rapidamente, pois muitas vezes partimos do mesmo local e, como os mapas não são gigantes, os caminhos também são parecidos. Mas o jogo tenta driblar essa repetitividade colocando algumas circunstâncias diferentes nas missões - como  bater em um carro até destruí-lo ou perseguir um alvo em movimento - e alternando entre quatro cidades no decorrer da história: Miami, San Francisco, Los Angeles e New York.

Isso não é infalível, às vezes a repetitividade ainda se nota, mas reduz o problema.


A equipe acertou em cheio na hora de ajustar a direção dos carros, não é um arcade insano mas também está longe de ser um simulador.

Os carros são velozes e é muito divertido dirigir, mas é necessário fazer os movimentos com precisão. Acelerar loucamente e raspar o carro em tudo, como alguns jogos arcade permitem, não funciona de jeito nenhum: nosso carro tem uma "barra de vida" e nessa altura da série ainda não podíamos trocar de carro, então cada batida nos deixa mais perto de fracassar.


O jogo é consideravelmente difícil em algumas missões. A sorte acaba sendo um fator importante, porque se por acaso esbarrarmos em uma viatura bem perto do destino é muito difícil despistá-la a tempo.

E claro, não podemos deixar de mencionar a infame "Test Mission", que ao invés de ser um tutorial, ou pelo menos uma introdução comum ao jogo, é muito mais difícil que várias missões que vêm depois. Essa é uma escolha que não faz muito sentido e acaba afastando muitos jogadores do modo história.

Seria uma falha ainda mais grave se os outros modos não oferecessem muita coisa, mas é justamente o contrário.


Um deles é o Take a Ride, onde simplesmente escolhemos uma das cidades e podemos fazer o que nos der na telha. Dar uma volta, conhecer todo o mapa e, é claro, provocar a polícia para deixar as coisas mais divertidas. Esse modo sem dúvida é o ponto alto do jogo, pois pega toda a diversão do gameplay, tira todas as limitações de tempo e nos deixa aproveitar as perseguições sem nenhuma preocupação. 

Fugir da polícia dentro das missões tem que ser o mais rápido possível, pois não queremos chegar no destino com as viaturas na nossa cola, mas fugir da polícia no Take a Ride é só diversão, nós não fazemos questão de despistá-las rapidamente, ao invés disso até tentamos sacaneá-las - ou dar olé, como eu diria na época - ziguezagueando entre carros até uma delas bater, desviando da viatura que vem ao nosso encontro para que ela bata na que vem atrás, as possibilidades eram infinitas!

E isso ficava ainda mais divertido conforme você se aperfeiçoava. A polícia do jogo não é a mais esperta do mundo, então você simplesmente fazia a festa com as viaturas.

E diabos, os caras até colocaram a função de replay para apreciarmos melhor as nossas façanhas! O modo Take a Ride é uma obra-prima!

Também temos os Driving games, que nos dão objetivos específicos, como despistar a polícia ou passar uma série de checkpoints pelo mapa. O que se destaca entre eles é o Survival, que coloca um monte de viaturas doidas para ir atrás da gente e nos desafia a escapar delas pelo maior tempo possível.


Driver não tem gráficos bonitos, mas ele foi um dos primeiros jogos de direção com um mundo aberto em 3D, então na verdade ele é uma maravilha tecnológica. Os prédios são quadradões, as texturas são pixelizadas e o draw distance é ruim, mas são todos sacrifícios compreensíveis para alcançar o que eles queriam.

E mesmo com as limitações eles adicionaram vários detalhes legais. A calota sai do carro em algumas curvas, lixo é espalhado no ar quando a gente passa por becos, e às vezes até tem um avião ou dirigível sobrevoando a cidade!

E o jogo também consegue criar uma boa atmosfera, seja nos dias ensolarados de Miami, nas noites de Los Angeles ou nas chuvas de New York. O estilo policial dos anos 70 - inspirado por Starky & Hutch, Bullit e The Driver - dá muito carisma ao jogo e faz com que ele continue sendo autêntico até hoje.


A versão do PC é um port, mas melhorou consideravelmente os gráficos. Também dá opções de carro para o Take a Ride após terminar a história, algo que faz falta na versão PS1.

Outra diferença entre as versões é a trilha sonora. Seguem o mesmo estilo, mas a trilha sonora do PS1 é original, enquanto a do PC é licenciada. Uma escolha estranha, pois as músicas originais são sensacionais e se destacam bem mais.

Elas capturam com perfeição o estilo das séries policiais antigas e cada uma complementa muito bem os momentos de gameplay. Algumas se destacam, como a New York Night e o tema principal, mas todas são boas e marcantes.

Uma decisão que mudou muito minha experiência com o jogo foi alterar as configurações de som, pois no padrão a música fica mais baixa que os efeitos sonoros. Os efeitos sonoros não são ruins, mas colocar a música por cima deixa tudo bem mais divertido.

VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Ótimo controle dos carros
• Perseguições divertidas e emocionantes
• Mundo aberto com quatro cidades para explorar
• Modo Take a Ride
• Recria muito bem o estilo policial dos anos 70
• Ótima trilha sonora na versão PS1

PONTOS NEGATIVOS
• Algumas missões repetitivas no modo história
• Dificuldade e dependência da sorte em algumas missões
• Poucos carros na versão PS1

Driver foi um dos pioneiros no seu estilo e naturalmente cometeu erros, mas suas qualidades se destacam. As perseguições cheias de ação e a liberdade de dirigir pelas cidades são características inesquecíveis para qualquer um que experimentou o jogo. Ele era diversão garantida e continua sendo.

Os gráficos não eram bonitos e envelheceram mal, não dá para negar, mas eu nem considero isso um ponto negativo, pois diante de todo o resto a gente percebe que eles fizeram o melhor que podiam.

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