Crash Bandicoot


Uma série de jogos que marcou muito minha infância foi Crash Bandicoot. Muitas e muitas horas foram gastas coletando caixas, cristais e gemas em cada um dos jogos da trilogia original. Crash 2 - que foi o primeiro que eu joguei - e Crash 3 - que era o meu favorito - tinham um lugar bem maior no meu coração gamer, mas ainda assim o primeiro jogo não merece ser desprezado, afinal tem todo o mérito de estabelecer o que a série representa.

Então hoje é dia de voltar ao início e ver como ele está depois de tantos anos!

Crash Bandicoot

Desenvolvedora: Naughty Dog

Lançamento: 1996

Plataforma: Playstation




Nossa saga começa com o doutor Neo Cortex, um cientista DO MAL que planeja dominar o mundo com a ajuda de um exército de animais mutantes. Ele se instala nas ilhas Wumpa, que fica em algum canto entre a Austrália e a ilha de Lost, e começa a capturar animais para transformá-los em soldados.

Alguns dos experimentos se saem muito bem, outros nem tanto e alguns são um total fracasso, como Crash, um bandicoot que não é afetado pela lavagem cerebral e acaba escapando do laboratório.


Mas apesar de sua bela fuga Crash deixou algo para trás: Tawna, uma bandicoot fêmea que Cortex transformou - com motivos bem questionáveis - em uma versão furry da Pamela Anderson. Dessa forma Crash precisa atravessar o arquipélago e salvar Tawna das mãos malignas e taradas do dr. Cortex.

É um enredo basicão de jogos de plataforma - bom, exceto pela tara de Cortex por furries -, mas funciona bem porque os personagens são carismáticos. Crash é mudo, mas muito expressivo, e Cortex é um belo exemplo de vilão megalomaníaco. E alguns dos chefões, como Pinstripe e Ripper Roo, conseguem brilhar nos pequenos momentos em que aparecem.


Algo que eu gosto em Crash e que é difícil de ver em jogos de plataforma dessa época é uma sensação de continuidade, de que a ordem dos níveis faz algum sentido. Você começa numa praia, entra na selva, encontra nativos, na segunda ilha atravessa ruínas de uma civilização antiga e na terceira ilha as instalações do Cortex passam a ser o cenário principal e finalmente chegamos no topo do seu castelo.

Até mesmo podemos ver as outras ilhas no fundo de certas fases, é um detalhe muito bacana!

Isso pode restringir um pouco a variedade dos ambientes, mas mesmo fases de temas semelhantes - como as ruínas externas e internas ou diferentes seções do castelo do Cortex - possuem características bem distintas umas das outras, então é algo muito bem feito.


Enquanto a maioria dos platformers 3D investiu em áreas abertas, Crash foi um descendente mais direto dos side-scrollers. O caminho é linear, no máximo se dividindo em dois, e é repleto de buracos, obstáculos e inimigos, além de que várias fases são de lado mesmo, transformando o jogo em um side-scroller clássico.

E, se pararmos para analisar, o jogo abrange todas as possíveis direções de movimento. Crash vai para frente, para os lados, verticalmente e até contra a tela (já falaremos mais disso), adicionando bastante variedade ao jogo.  

Crash é bem simples nos comandos, limitando-se a correr, pular e girar, então a diversão do jogo fica por conta do design das fases. Tudo começa tranquilo, apresentando cada inimigo e obstáculo por si só, mas logo o jogo começa a misturar os perigos e colocá-los contra o jogador em diferentes combinações. A dificuldade das fases sobe rápido, mas não de uma forma ruim, conforme você pega o jeito as fases mais difíceis se tornam as mais divertidas.

Morrer é comum, mas são muitas vidas espalhadas pela fase e também muitas caixas do Aku Aku - a máscara tribal que protege Crash contra danos de inimigos-, então isso compensa.


Além das fases comuns o jogo tem as fases a la Indiana Jones, onde Crash é perseguido por uma pedra rolando e precisa correr como se não houvesse amanhã para não virar patê. O fato do caminho ser inverso - com o Crash correndo na direção da tela - parece ser uma péssima ideia na teoria, mas no fim se tornou uma das partes mais icônicas de toda a série. Exige uma atenção muito maior e também causa um certo desespero, mas você está sendo perseguido por uma pedra gigante, então é apropriado.

Também temos as fases em que Crash monta um javali, que são mais rápidas, e as do escuro, onde sua única fonte de luz é Aku Aku e ser atingido por um inimigo é praticamente uma sentença de morte.

As lutas com chefões são simples, mas na sua maioria legais. Eu diria que Cortex, Ripper Roo e Pinstripe são os destaques, Nitrus Brio e Papu Papu também são legais e a única luta que não tem muita graça é a do Koala Kong.


Outra coisa que me chama a atenção em Crash desde que eu era criança é como as laterais das fases são detalhadas. Folhas, cogumelos, totens, insetos e muitas outras coisas adornam o nosso caminho e o tornam muito mais bonito de se ver. Sem falar em efeitos como a neblina nas fases da ponte e a chuva na subida do castelo de Cortex, que fazem uma incrível diferença.

Sem dúvida o estilo linear e a câmera fixa foram cruciais para possibilitar isso tudo, mas ainda assim é incrível ver tanto detalhe em um jogo do começo da vida do PS1. É um capricho que dá gosto.

Os personagens são bem animados e passam um ar cartunesco muito agradável. Claro que isso seria ultrapassado e muito por Crash 2 e 3, mas já eram bons nesse primeiro jogo. A expressão de desespero ao correr da pedra ou a cara de doido antes de pular no javali são impagáveis até hoje.

Quase não existe diálogo, mas as vozes de Cortex e Brio combinam com os personagens. E a música também é boa. Não é tão variada, seguindo primeiro um estilo tribal e depois algo mais industrial, mas agrada, diverte e é muito possível de você se ouvir cantarolando um ou outro tema depois de jogar.


Os maiores defeitos de Crash Bandicoot ficam em escolhas bobas que afetam tremendamente o jogo.

O primeiro é a perfeição extrema que o jogo exige para fazer 100%. É necessário coletar gemas que só são adquiridas ao quebrar todas as caixas de uma fase sem morrer, o que se torna bem difícil a partir de um ponto. Se você já for fã da série até encara com empolgação o desafio, mas se não for é uma exigência exagerada que pode frustrar e desanimar.

O outro problema é o ingrato sistema de save. Acha que pode salvar a qualquer momento que estiver fora da fase? HA! Você só pode salvar ao coletar uma gema, que como já mencionei não é uma tarefa fácil, ou ao completar os rounds bônus da Tawna. Eles aparecem em muitas fases, mas se você morrer precisa sair da fase, voltar e coletar novamente os "tokens" da Tawna para ter outra chance, o que não é nada legal.

Pelo menos você não precisa quebrar todas as caixas do bônus para salvar, pois fazer isso é absurdamente difícil em alguns casos.  Mas ainda assim é um sistema falho e perder algum progresso por causa disso é frustrante. Graças a Deus hoje existem emuladores, save states e etc, mas é insano que alguém tenha aprovado algo assim na época.

Se viagem no tempo fosse real eu voltaria para parabenizar o meu eu criança pela façanha de completar esse jogo!

VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
Personagens carismáticos
• Level design divertido e desafiador
• Gameplay variado que explora bem o 3D
• Cenários belos e caprichados
• Sequência de níveis que faz sentido

PONTOS NEGATIVOS
• Exigências exageradas para o 100%
• Sistema de save falho

O primeiro jogo da saga Crash estabelece grande parte do que fez a série ser tão amada pelos jogadores, desde os personagens carismáticos e o mundo cartunesco até o gameplay cativante com várias características únicas. E para deixar tudo melhor ainda tem cenários caprichados, personagens bem animados e uma sensação de continuidade bem legal.

Claro que ele tem suas falhas e seus espaços para melhorar, mas não deixa de ser um jogo bom e muito divertido.

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