WipE'out"


Na hora de nomear sua série de corridas futuristas, a Psygnosis agiu que nem uma mãe brasileira: pegou um nome aceitável e decidiu incrementar. Wipeout ganhou um E maiúsculo sem nenhum motivo, um apóstrofo depois desse E e ainda aspas no final de tudo, resultando na beleza de WipE'out".

Eventualmente o apóstrofo e as aspas saíram de cena e a única coisa que restou para deixar todo mundo confuso foi o E maiúsculo, sendo muito comum ver o jogo escrito como "Wipeout" ou "WipeOut", ambos fazendo mais sentido que o nome verdadeiro.

Mas como diria Shakespeare, se a rosa tivesse outro nome ainda teria o mesmo perfume, então vejamos se WipE'out" é melhor do que o nome que carrega!

WipE'out"

Desenvolvedora: Psygnosis

Lançamento: 1995

Plataformas: PlayStation, PC e Saturn




WipE'out" se passa em 2052. Nesse belo e próspero futuro as corridas de fórmula 1 ficaram para trás e o torneio de corrida mais popular do mundo é a F3600, disputada com naves anti-gravitacionais que podem flutuar pouco acima do chão. Nessa edição o torneio tem a participação de quatro times com oito pilotos, todos selecionáveis para o jogador desde o início.

Naturalmente não existe uma história complexa no fundo, mas o mundo que eles estabelecem é legal. É um futuro cheio de tecnologia, mas não é monótono ou sombrio como muitos outros mundos de ficção científica geralmente são. É um mundo parecido com o nosso, afinal esse é só um torneio de corrida com uma tecnologia bem legal.


O gameplay é muito diferente de outros jogos de corrida, o que é natural e completamente apropriado, afinal as naves flutuam, correm muito e são bem leves, exigindo movimentos precisos nas curvas.

No começo é algo muito estranho e o seu primeiro contato com o jogo provavelmente vai ser batendo em toda e qualquer curva do circuito, mas depois dessa primeira impressão WipE'out" tem um gameplay viciante e frenético que agrada bastante conforme você pratica. As batidas vão ficar menos frequentes e sua nave vai deslizar pelas curvas da fase numa velocidade alucinante, o que é uma sensação muito boa.

O jogo não é gentil com os principiantes, mas recompensa os que perseveram.


Vários fatores são cruciais para ir bem no jogo, desde saber usar os air brakes - freios especiais que ajudam nas curvas - até se familiarizar com os circuitos. Também temos os turbos e power-ups espalhados pela pista: é importante aproveitar ao máximo os turbos, pois cada um deles te ajuda um pouco, e pensar bem na hora de usar os power-ups, pois usar na hora errada pode atrapalhar ao invés de ajudar. Atingir um inimigo que está logo na sua frente, por exemplo, pode fazer com que você bata na traseira dele.

No nosso arsenal temos ondas de energia, mísseis, escudo e outros. É bem ao estilo Mario Kart, mas menos exagerado, pois nenhum deles vai fazer milagre e te colocar na liderança - ou te tirar dela - de repente. E isso é algo muito bom!

O único ponto que me incomoda nos power-ups é o escudo, que impede o uso de outros power-ups. Até faz sentido, mas pegar um escudo acaba sempre sendo chato pois precisamos esperar que seu efeito passe para poder usar qualquer outro.

Outro fator que pesa no gameplay é que cada time tem naves com características diferentes, como velocidade máxima e resistência a danos. Mas essas diferenças não são explicadas dentro do jogo, o que acaba atrapalhando, pois o jogador escolhe a nave cegamente e ainda pode ficar "viciado" no modelo escolhido. Eu comecei com a Feisar, joguei com ela por muito tempo sem nem saber das diferenças e fiquei totalmente perdido quando decidi testar outra. 


O jogo possui 7 pistas, sendo uma delas secreta. É pouco para os padrões de hoje, mas era bom para a época. E as pistas são caprichadas, parecendo mais montanhas-russas do que pistas de corrida. Curvas fechadas, subidas e descidas íngremes, partes largas e estreitas e até alguns saltos de vez em quando, todas são bem feitas e oferecem muita diversão.

E são bem variadas visualmente também. Estão em várias partes do mundo (e a secreta é em Marte!) e temos desde desertos rochosos até geleiras, deixando cada pista bem única.

Talvez versões reversas dos circuitos seriam bem-vindas, mas não ter não é um problema.


O modo single player oferece corridas únicas, time trials e um campeonato que passa por todas as pistas, que é o modo principal do jogo.

O campeonato segue um sistema de pontuação (o primeiro ganha nove pontos, o segundo ganha sete e assim vai), mas também exige que o jogador chegue pelo menos em terceiro, independentemente da pontuação que ele já tem. As tentativas também não são infinitas, temos somente três chances em cada um dos circuitos.

Particularmente não concordo com a regra de chegar em terceiro colocado, mas tem seu propósito. No começo eu tinha dificuldade na pista SilverStream e pensei "se eu chegar em primeiro em todas as outras posso chegar em qualquer colocação nessa que não vai ser um problema", mas então fui desclassificado por não chegar entre os três primeiros. Achei muita mancada, mas me fez praticar mais até ir bem nela, o que é bom.

Já o limite de três tentativas é algo que acho bem justo. O jogo tem as corridas únicas e os time trials para praticar, no campeonato você precisa estar preparado.


Algo legal é que quando você acha que já é craque e vence o primeiro campeonato - chamado de Venom - o jogo libera o campeonato Rapier e te dá um grande chute na bunda. A Rapier tem uma velocidade mais alta e isso muda muito as coisas, pois é preciso ter ainda mais precisão e agilidade nos movimentos. Aí todo o aprendizado começa outra vez.

WipE'out" é uma lição de humildade, devo dizer!

O jogo também conta com um modo multiplayer, mas não do tipo split screen. Ele exige um acessório que conecta dois consoles, então seria preciso ter dois PlayStations, duas TVs e duas cópias do jogo, o que acaba complicando tudo.


Graficamente WipE'out" faz um belo trabalho, principalmente para o começo de vida do PS1. As naves são simples, mas bonitas, e as pistas possuem montanhas, outdoors e construções ao redor que complementam muito bem cada cenário (particularmente gosto muito do cenário gelado da Silverstream). Entre a Venom e a Rapier a hora do dia também muda, dando um toque final no visual das pistas.

Às vezes é possível perceber o cenário desaparecendo atrás da nave, mas não incomoda e a gente sabe que carregar o que está na frente é obviamente mais importante. Eu também senti falta de efeitos das explosões que nos atingem, mas não chega a ser um problema.

Mas uma parte visual que WipE'out" investe bastante é a estética futurista, presente nos logos das equipes, dos corredores e nas estampas das naves. Tudo é colorido e vibrante, mas também minimalista. Essa é uma característica bem marcante da série toda, mas é surpreendente ver que o primeiro jogo já estabelecia muito disso.

A única parte feia do design é a tela de loading, mas fora isso tudo é bem elegante e bonito.

Outro ponto marcante é a trilha sonora. Vários compositores de música eletrônica atuaram na criação da trilha e como resultado temos músicas bem únicas que combinam perfeitamente com a temática futurista do jogo. Não existem muitos efeitos sonoros, mas a música é ótima!

VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Gameplay único
• Velocidade frenética
• Pistas alucinantes que parecem montanhas-russas
• Power-ups úteis, mas equilibrados
• Design futurista muito caprichado
• Ótima trilha sonora

PONTOS NEGATIVOS
• Usar o escudo impede o uso de outros power-ups
• Características das naves não são mostradas no jogo
• Sem split screen

WipE'out" está longe de ser um jogo de corrida comum. A sensação é completamente diferente e a curva de aprendizado é severa, o que pode afastar alguns, mas quem persiste encontra muita diversão.

As pistas parecem montanhas-russas, o sistema de power-ups é bem feito e a velocidade é tão grande que em certos momentos você nem consegue desviar o olhar para checar sua colocação. É o tipo de jogo que te deixa vidrado na tela.

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