Crash Twinsanity


Cortex é um vilão persistente. Não é como se o Crash fosse honrado como o Batman, que só bate no Coringa e joga ele na cadeia, o bandicoot já queimou o castelo do cara, o derrubou de um dirigível, explodiu sua estação espacial e até o deixou preso como bebê na pré-história! Voltar a dar as caras depois de coisas assim é muita coragem!

Mas como diria o velho deitado, "se não pode vencê-lo, junte-se a eles". Não é como se Cortex fosse fazer isso voluntariamente, mas num certo dia isso foi inevitável: o dia em que fizeram Crash Twinsanity!

Twinsanity foi feito pela Traveller's Tales Oxford, estúdio criado especialmente para reviver a série. Wrath of Cortex não fez o sucesso que a Universal queria e enquanto isso outras séries - como Jak and Daxter - começavam a estourar no PS2, então eles decidiram que a série precisava entrar num novo rumo: OS ESPAÇOS ABERTOS!

Eles começaram um grande projeto, mas nem tudo saiu como o previsto. Ratchet and Clank foi lançado durante o desenvolvimento e tinha uma ideia muito parecida, o que os obrigou a abandonar o conceito original. Depois disso o prazo para o lançamento foi ficando apertado e eles tiveram que correr para terminar o jogo, descartando muito do conteúdo planejado.

Mas o prazo terminou e Twinsanity foi lançado. Seria ele a prova de que a série pode viver sem a Naughty Dog? Pois é o que veremos!!

Crash Twinsanity

Desenvolvedora: Traveller's Tales Oxford

Lançamento: 2004

Plataformas: PlayStation 2 e Xbox




Depois de ficar três anos preso na Antártida, Dr. Cortex retorna - em um bloco de gelo - para as Ilhas Wumpa e prepara a sua vingança. Bolar um novo plano para dominar o mundo não deve adiantar muito, afinal Crash sempre aparece para cortar seu barato, então ele decide acabar com o bandicoot pessoalmente, como um homem de verdade deve fazer!

Então ele se disfarça de Coco, faz uma voz fajuta de garota e ludibria Crash para uma armadilha no meio da selva, onde poderá destrui-lo enquanto todos os outros vilões da série assistem!

Claro que não funciona e Cortex é derrotado novamente, mas só então chegamos ao verdadeiro conflito do jogo: papagaios intergaláticos com estranhos poderes estão invadindo o arquipélago com um exército de formigas aliens e pretendem destruir o nosso belo planeta!

OH! O CAOS! O HORROR!


Diante dessa nova ameaça Crash e Cortex precisam trabalhar juntos para salvar o planeta dos dois vilões, afinal Crash não quer ver a destruição das ilhas e Cortex não quer ver outro vilão trazer o caos que deveria ser sua responsabilidade.

Twinsanity investe muito mais na história do que os seus antecessores. Os níveis são ligados diretamente, sem o auxílio da Warp Room, e todas as situações do gameplay têm um fundamento dentro da história, por mais absurdos que possam ser.

O jogo também investe pesado no humor, afinal Cortex e Crash estão trabalhando juntos e isso não acontece tão pacificamente. Algumas personalidades são modificadas por causa disso - Crash é mais burro e sem noção e Cortex é mais histérico e descontrolado -, mas não é um problema porque eles atingem o objetivo e Twinsanity é de longe o jogo mais engraçado da série.

Diabos, Cortex é totalmente hilário e tem as frases mais engraçadas! "Eu arruinei a vida de tantos, não pode esperar que eu me lembre de todos", "Crash, eu fui como um pai para você. Eu te criei, cuidei de você...tentei te destruir..." e tantas outras. O novo dublador, Lex Lang, faz um excelente trabalho e transforma Cortex num vilão/anti-herói extremamente divertido.


O jogo tem alguns novos personagens, como os papagaios do mal Victor e Moritz, Nina Cortex (ela até apareceu num jogo portátil antes, mas não vem ao caso), Evil Crash e a Madame Amberly. Nina é uma novata bem legal - principalmente pelos braços biônicos - e Evil Crash também é divertido, mesmo sendo só uma variação, já os outros não se destacam. Victor e Moritz cumprem bem seus papéis, mas não chamam a atenção.

Mas o jogo faz um excelente uso dos personagens clássicos da série. Papu Papu volta com um papel bem relevante, N. Gin tem um navio sensacional e robô gigante mais sensacional ainda, Uka Uka se transforma num gigante de gelo e Dingodile, N. Tropy e Nitrus Brio não aparecem muito, mas estão lá para nos enfrentar. A única personagem que fica quase totalmente de fora é Coco, o que é uma pena.

O jogo também é cheio de referências aos jogos anteriores. A casa de Crash, a luta com Cortex muito parecida com a do primeiro jogo, os vilões que aparecem para assistir, Papu Papu dormindo na cabana como no Crash 1 e até uma alfinetada no Wrath of Cortex, que é bem engraçada.


Mas falemos dos ESPAÇOS ABERTOS, uma das maiores novidades!

O jogo não é realmente um "mundo aberto", mas mistura os caminhos lineares clássicos da série com alguns núcleos maiores, onde existem diversos locais para ir e coisas para fazer. O primeiro contato com o jogo já é numa praia aberta cheia de segredos, o que dá uma sensação bem legal de liberdade.

E mesmo os caminhos lineares são mais amplos que nos jogos anteriores, pelo menos a maior parte deles, então essa sensação de liberdade é presente em quase todo o jogo. O único problema que toda essa liberdade traz é que a câmera deixa de ser fixa e fica em péssimos ângulos às vezes, mas dá para aguentar.


Não temos mais o sistema de receber gemas ao quebrar todas as caixas, ao invés disso elas estão espalhadas pelo cenário. Algumas são quase impossíveis de perder enquanto outras dão muito trabalho. No caso dos locais maiores o jogo usa o espaço para espalhar ainda mais as gemas, colocando certos desafios para conquistá-las. Em certos caminhos também existem desvios que podem ser totalmente ignorados, mas que recompensam os exploradores com as gemas.

As gemas não liberam um final secreto e só são usadas para liberar imagens de uma galeria e um vídeo especial pelos 100%. Quem não gosta de explorar vai acabar deixando-as de lado, mas quem gosta tem bastante coisa para procurar.


O controle de Crash aqui tem os mesmos movimentos de sempre. Não é tão fluído como no 2 ou no 3, mas é parecido e agrada bastante. O pulo duplo, introduzido em Warped, também está aqui desde o começo do jogo.

Uma grande novidade é que contamos com a companhia de Cortex por boa parte do jogo. Quando estamos com ele ainda podemos girar e pular (uma vez só, sem pulo duplo), mas também podemos bater nos inimigos com a cabeça de Cortex ou jogá-lo para um local distante, onde ele pode acionar uma alavanca ou coletar alguma coisa.

É quase uma versão comédia de ICO, o que é bem estranho se você parar para pensar.


Com Crash e Cortex trabalhando juntos o jogo ainda tem espaço para criar outras combinações de gameplay. Se Cortex acabar preso num cano temos que levá-lo rolando pelo cenário, se ele está sendo perseguido por abelhas temos que abrir o caminho para ele e se precisarmos chegar a algum lugar rapidamente pulamos nas costas dele para surfar pelo cenário, de uma forma semelhante aos níveis com animais nos outros jogos.

Isso é algo que gosto muito em Twinsanity: o gameplay varia constantemente, mas nunca se distancia completamente da fórmula tradicional da série. Temos o gameplay básico com Crash, a combinação Crash e Cortex e as variadas situações, o que deixa cada parte do jogo com algo único, mas sem descaracterizar a série.

E como você deve ter percebido Cortex é um saco de pancadas nesse jogo. E devo dizer que vê-lo sofrer é realmente divertido!

No geral eu também gosto das lutas com os chefes, mas algumas delas são repetitivas. Dingodile, N. Cortex e os Evil Twins mudam as formas de ataque conforme são derrotados e oferecem lutas ótimas, mas Tikimon, N. Gin, N. Tropy / N. Brio e Madame Amberly seguem sempre o mesmo padrão, então fica muito fácil derrotá-los. 


O jogo também coloca Cortex e Nina jogáveis em certos momentos e eles são bem divertidos. Não são melhores que Crash, mas são diferentes de alguma forma: Cortex tem sua fiel arma de raios e Nina possui braços biônicos que usa para se pendurar em certos pedaços do cenário.

É uma pena que eles são usados poucas vezes na história, pois seria legal aproveitar um pouco mais da novidade.

Na verdade eles até seriam jogáveis em mais fases, mas tudo isso foi cortado por causa do prazo de lançamento apertado, o que é bem triste. Várias fases inteiras e até personagens jogáveis foram removidos do jogo final, o que deixou a aventura bem curta, com menos de cinco horas de duração. Claro que para o 100% leva mais tempo, mas ainda assim dura menos que os jogos anteriores.

Essa pressa também trouxe vários outros problemas que são pequenos, mas que podem incomodar. Às vezes os checkpoints não são bem posicionados (diabos, o jogo nem mesmo salva depois de certos chefões!), não é possível pular as cutscenes e os bugs são frequentes. É uma pena, pois com um pouco mais de tempo creio que poderiam resolver todos esses problemas.

Algo que não foi incluído e também faz falta é uma opção para jogar fases específicas. Depois de zerar Crash volta para o Iceberg Lab, onde até podemos acessar todas as fases do jogo, mas não é algo intuitivo e você vai precisar explorar bastante para encontrar o caminho certo para a fase que quer. É divertido explorar o mapa de forma mais livre, mas ainda assim seria bom ter um modo mais direto.


A apresentação do jogo é muito boa! Os personagens se parecem com as versões originais, mas têm modelos novos que aproveitam bem o poder dos novos consoles. Mesmo personagens que fazem um simples cameo, como Pinstripe e Tiny Tiger, receberam novos modelos que são belas evoluções em relação aos originais.

As animações também são boas. Os movimentos de Crash são naturais e ele até olha em volta conforme você mexe a câmera, enquanto Cortex tem expressões e reações hilárias.

Diabos, Cortex é a verdadeira estrela do jogo! Deveriam ter colocado Cortex no nome!


Os cenários também são lindos, com cores vibrantes e uma iluminação muito boa. O jogo capricha no visual clássico - as selvas, praias e vilarejos indígenas estão ótimos! - e também apresenta novos cenários bem interessantes, como o Iceberg Lab e a Academy of Evil.

A 10ª dimensão não é tão bonita, mas é uma versão árida e destruída das Ilhas Wumpa, então pode ser proposital.

A trilha sonora é outra parte de destaque. Não diria que é a melhor da série, mas sem dúvida é a mais impressionante, pois todos os temas foram criados inteiramente a cappella! Diabos, fazer essa música ou essa música sem instrumentos é quase inacreditável!

E alguns temas são releituras de músicas clássicas - The Blue Danube, Flight of the Bumblebee e The Hebrides (Fingal's Cave) -,  o que é sensacional e ainda dá um toque de desenho animado ao jogo!

Como disse antes, a dublagem também é ótima. Quase todo o mérito vai para Lex Lang, o dublador de Cortex, mas todos têm boas vozes. Lang até continuou dublando Cortex nos jogos seguintes, mas não teve diálogos tão hilários para usar.

VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Liberdade dos cenários abertos
• Vários estilos de gameplay, mas sem quebrar a fórmula

• Foco maior na história
• Hilário, tanto nas cutscenes como no gameplay
• Belos gráficos

• Trilha sonora impressionante

• Excelente dublagem

PONTOS NEGATIVOS
• Muito curto

• A câmera atrapalha em certos momentos
• Muitos bugs e alguns problemas técnicos
• Repetir uma fase não é uma tarefa simples

Twinsanity não é o melhor Crash de todos, mas foi um passo na direção certa. O jogo moderniza a narrativa, coloca muito humor, inova com os espaços abertos e mistura vários estilos de gameplay, tudo isso sem sair da fórmula clássica e mantendo a cara da série.

Ele tinha potencial para ser muito maior e melhor, pois seus maiores defeitos são frutos do desenvolvimento apressado, mas o produto final ainda diverte muito e nos mostra que Crash poderia continuar sendo uma grande série, mesmo sem a Naughty Dog. Se a Universal tivesse dado mais tempo para a equipe e confiado neles para mais jogos acredito que Crash teria recebido muitos outros jogos divertidíssimos nesse mesmo estilo.

Comentários

  1. Haha esse é o melhor crash de ps2. Quem dera se a desenvolvedora dele fosse a naughty dog... mas esse crash é muito foda :D

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    1. Verdade, a Naughty Dog conseguiu criar o Jak and Daxter do zero e também alcançar sucesso, se eles tivessem continuado com o Crash seria sensacional!

      Obrigado por comentar Red X o/

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