Burnout Revenge


Acho que depois de lançar Burnout 3, cada funcionário da Criterion Games recebeu uma medalha de mérito, a chave da cidade em que moravam, um fornecimento vitalício de pizza e uma visita do seu vingador favorito.

Pelo menos era o que eles mereciam, afinal Burnout 3 foi O MELHOR JOGO DE CORRIDA DE TODOS OS TEMPOS.

Mas então, depois de desfrutar dos trocentos prêmios e notas máximas que Burnout 3 recebeu, eles decidiram começar o desenvolvimento do próximo jogo da série e fazer algo ainda melhor!

Eles não conseguiram, é claro, mas isso não vem ao caso agora.

Burnout Revenge

Desenvolvedora: Criterion Games

Lançamento: 2005

Plataformas: PlayStation 2, Xbox e Xbox 360



Se você achava que o terceiro jogo era agressivo com os takedowns, Burnout Revenge é basicamente um fruto do amor dele com a filmografia completa do Michael Bay, resultando num número incontável de explosões e de carcaças de carros voando pela tela.

A principal forma de trazer esse caos é o Traffic Check. Com essa novidade você pode simplesmente sair batendo nos carros que estão no seu caminho (desde que eles não estejam vindo na direção oposta ou sejam grandes demais, como ônibus e caminhões) sem nenhuma punição, na verdade o jogo até te recompensa com turbo e ainda tem eventos dedicados exclusivamente a isso, os Traffic Attacks.


Essa mecânica é bem divisiva entre os fãs da série e diria que tanto os que gostam dela como os que a odeiam têm seus motivos.

Por um lado, é uma mecânica divertida. Ver os carros sendo arremessados como se fossem caixas de papelão na sua frente não faz o menor sentido mas é um caos muito satisfatório, principalmente quando temos fileiras enormes de carros esperando para serem destruídas. Os eventos de Traffic Attack costumam ser bem divertidos, por mais que sejam muito fáceis (dá para dobrar ou triplicar o valor que o jogo pede sem grandes problemas).

Essa função também pode ser usada para takedowns, arremessando o carro do tráfego contra o seu adversário. Isso acontece muitas vezes sem querer, mas quando conseguimos perceber um carro dando sopa e jogá-lo especificamente contra um rival é um momento sensacional! E tudo acontece numa fração de segundo, então a gente se sente muito habilidoso com uma façanha dessas!


Mas por outro lado, isso tira parte da dificuldade do jogo. Por três jogos evitávamos todo o tráfego e corríamos pela pista com medo de não conseguir desviar a tempo, mas agora metade desse obstáculo se tornou inofensivo e quando estamos do lado certo da pista não existe quase nada a se preocupar. Desviar do tráfego requer uma certa habilidade do jogador, sair batendo em tudo não.

E os takedowns com os carros arremessados só funcionam ao nosso favor, se um inimigo joga um carro contra o nosso nada acontece. Claro que seria péssimo ser nocauteado por um carro que nem vimos chegando, mas ainda assim é injusto que o jogador tenha essa vantagem.

Outra mecânica que também pode ser considerada injusta é o Crashbreaker, que em certos eventos nos permite explodir depois de uma batida para impedir nossos inimigos de nos ultrapassarem, uma evolução do modo Aftertouch introduzido no 3. Logicamente isso não funciona contra nós, afinal seria péssimo, mas ainda assim isso nos dá uma vantagem muito grande, se você souber explodir na hora certa pode bater quantas vezes quiser e ainda manter a liderança.

Eu prefiro a fórmula da série sem essas novidades, mas mesmo assim considero o Traffic Check bem divertido e não acho que a Criterion errou em inclui-lo. Burnout 2 teve a introdução do Crash e o 3 dos takedowns, o Revenge também precisava de uma mecânica só sua, não queríamos só um clone do 3.


Mas outra novidade que o jogo traz são os caminhos alternativos, que podem ou não ser atalhos, espalhados pelas pistas. Esses caminhos são marcados por luzes azuis na sua entrada, afinal correndo na velocidade padrão do jogo seria quase impossível distinguir, e parte do sucesso nas corridas está justamente em saber quais caminhos valem ou não a pena.

Alguns deles, por exemplo, são ótimos mas oferecem perigos consideráveis que exigem bastante habilidade, então se não tivermos reflexos rápidos eles acabam piorando as coisas ao invés de melhorar.

Achei que isso tudo seria um problema nos desafios de tempo, que exigem mais do jogador, mas na prática não foi assim, depois de poucas voltas conseguimos ter uma ideia do melhor caminho e os desafios de tempo geralmente são generosos. Dessa forma os caminhos alternativos foram uma adição muito bem-vinda.


Aliás, o design das pistas está excelente, ainda melhor que em Burnout 3, e não apenas pelos caminhos alternativos. Rampas estão por todo o lado - gerando o que o jogo chama de "vertical takedowns" -, curvas enormes perfeitas para longos drifts também e parece que tudo foi projetado com a luta entre os carros em mente, com muitos locais que praticamente pedem para que a gente faça um takedown.

As pistas também são espalhadas pelo mundo, como é comum na série, com inspirações em Detroit, Miami, Roma, Hong Kong, etc. Eu diria que os locais não são tão icônicos quanto os de Burnout 3, mas admito que pode ser simplesmente porque eu jogava muito mais o 3, pois aqui os cenários também são ótimos.

A única parte em que as pistas ficam devendo é na quantidade, que é menor que Burnout 2 e 3. É compreensível, considerando que eles precisaram se dedicar mais em cada uma para criar todos os caminhos, mas como o jogo tem basicamente o mesmo número de eventos que Burnout 3 ele acaba se tornando um tanto repetitivo no final.

Sério, em alguns eventos Crash eu simplesmente pensei "ora bolas, eu já completei esse antes", pois o local era exatamente o mesmo e o trânsito também não parecia diferente.


Mas já que falamos do modo Crash, devo dizer que ele teve melhorias significativas!

A primeira delas foi remover por completo todos os "power-ups" que existiam no jogo anterior. Parece pouco, mas muda muito, pois no 3 ficávamos dependentes demais dos power-ups x2 e x4, não valia nem a pena continuar o evento se perdêssemos um deles. Sem eles o foco do jogador fica realmente em criar uma batida grandiosa ao invés de mirar num ícone.

Os locais dos eventos também são mais complexos, muitas vezes exigindo que o jogador atinja mais de um ponto, seja através do Traffic Check, arremessando um veículo e seguindo seu caminho, ou direcionando seu carro após a batida. Vários eventos Crash me fizeram quebrar a cabeça até bolar uma estratégia boa que conseguia envolver o maior número de carros possível.

Ainda sinto falta de certos veículos do Burnout 3 - afinal a gente podia usar CAMINHÕES DE LIXO, CAMINHÕES DE BOMBEIRO E ÔNIBUS -, mas mesmo assim não dá para negar que o modo Crash do Revenge está melhor.


E, enquanto os veículos do Crash deixam um pouco a desejar em comparação aos do 3, os carros das corridas estão bem mais bonitos! Usamos esportivos desde o princípio e quase todos têm suas pinturas tradicionais, sem aquela pancada de adesivos de patrocinadores que enfeiavam os carros de Burnout 3.

Afinal de contas, quem diabos patrocina uma corrida dessas? Matar inúmeros motoristas inocentes e gerar prejuízos milionários pelo mundo não me parece algo positivo para se relacionar com uma marca!

Isso tudo é uma questão estética, mas ora bolas, se não nos importássemos com a estética não teríamos gasto horas customizando nossos carros no Underground 2, então ponto para o Revenge por nos dar carrões bonitos!


Aliás, o visual do jogo está sensacional, diria que um dos melhores do PS2! Eles se superaram e  deixaram tudo ainda mais realista e belo, desde os detalhes na pista (mesmo sendo difícil notá-los na velocidade que passamos) até os efeitos de deformação dos carros, que estão sempre em evidência enquanto jogamos.

As cores usadas também são bem diferentes do resto da série, abandonando um pouco o visual mais vibrante dos jogos passados e adotando algo mais sério, cheio de tons marrons, cinzas e laranjas.

Muitos desenvolvedores se perdem ao tentar um visual sério, mas a Criterion conseguiu aqui e o resultado final parece saído de um poster de filme de ação, o que combina perfeitamente com o tipo de coisa que vemos no jogo.


Os efeitos sonoros também estão ótimos. Não mostram melhorias em relação ao anterior, mas não era necessário mesmo. Na parte da trilha sonora também segue um estilo parecido, até com várias bandas retornando, mas a seleção não é tão legal quanto a do 3.

Nem acho que seja um problema da qualidade das músicas escolhidas, só achei que não encaixaram tão bem no ritmo do jogo. Poderia dizer que também é simplesmente porque joguei demais o 3 e as músicas dele já ficaram na minha mente, mas eu passei mais de 10 horas jogando o Revenge só dessa vez, então acho que a trilha sonora dele deveria ter me conquistado pelo menos um pouco.

Mas o DJ está de fora desse jogo, então se você achava ele chatão tem um motivo para comemorar!

Claro, você poderia simplesmente ir nas opções e desativá-lo no 3 também, mas caso você tenha preguiça de fazer isso pode comemorar!


Um último deslize que devo mencionar é que Revenge não tem um modo de eventos avulsos, o que não faz o menor sentido. Temos o multiplayer, mas a falta de um modo single player avulso é mancada.

Não podemos, por exemplo, tentar bater recordes de takedown como fazíamos no 3, pois na carreira todos os eventos são limitados pelo tempo. Eu lembro que fiquei muito tempo fazendo isso na minha pista favorita do 3, não poder fazer o mesmo no Revenge é bem chato.


VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Velocidade e adrenalina continuam altíssimas
• Direção ainda mais agressiva
• Pistas excelentes e perfeitas para o combate agressivo

• Ótima seleção de carros para as corridas
• Melhorias no modo Crash
• Caos criado pelo Traffic Check é divertido 
• Um dos melhores gráficos do PS2

PONTOS NEGATIVOS
Traffic Check e Crashbreaker tiram parte do desafio do jogo
• Poucas pistas tornam o jogo um tanto repetitivo no modo carreira

• Ausência das corridas avulsas

Quando comparado com Burnout 3 (e as comparações são inevitáveis), Revenge fica devendo, mas por si só é um excelente jogo. A velocidade vertiginosa e a agressividade continuam lá e são muito bem aproveitadas pelos ótimos layouts das pistas, o que já é diversão garantida.

Se você amar loucamente as novidades que o jogo apresenta é possível que até goste mais dele do que dos outros jogos da série, mas mesmo que não seja tão fã vai conseguir se divertir. Mesmo sem ser revolucionário como os dois jogos anteriores ele consegue manter um padrão de qualidade e entregar mais uma experiência digna da série.

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