Crash of the Titans


ARGH!

Depois de analisar a série Crash até o Twinsanity, eu simplesmente pretendia deixá-la pra lá e fingir que a época mais sombria do nosso querido bandicoot não existiu. Mas há alguns dias uma coragem surgiu dentro de mim e eu decidi pegar Crash of the Titans para analisá-lo.

Algo pelo qual eu me arrependi rapidamente! Diabos, depois de todos esses anos as escolhas que fizeram nesse jogo só parecem ainda piores!

Mas eu cheguei ao fim, então vamos para a análise!

Crash of the Titans

Desenvolvedora: Radical Entertainment

Lançamento: 2007

Plataformas: PlayStation 2, Xbox, Xbox 360 e Wii



A história mostra Cortex e Nina encontrando uma nova forma de mutar os animais das ilhas Wumpa, usando uma substância chamada de "mojo", que é capaz de transformá-los em criaturas muito poderosas. Isso pode finalmente realizar o sonho de dominação mundial que Cortex tem há tanto tempo, então antes de colocar tudo em prática eles atacam a casa de Crash, congelando Crunch e capturando Coco como prisioneira.

Mas o que eles não imaginavam é que seus novos capangas animais não são tão infalíveis como eles desejavam, pois depois de alguns soquinhos Crash pode simplesmente colocar o Aku Aku na cara deles e domá-los por completo!

Essa premissa soa bem na teoria, afinal Cortex trabalha com mutações desde o primeiro jogo da série e mesmo Crash já tem um histórico de sair por aí montando em bichos, mas a execução é péssima.


Esse jogo meio que é um reboot, mas não totalmente, o que é ainda pior, pois eles podem destruir qualquer coisa da série e ainda falar que estão na cronologia original! Os designs mais punks enfeiaram boa parte dos personagens e vários deles ainda agem de forma totalmente diferente do que já conhecemos:

N. Gin, que era um dos melhores vilões da série e criou vários robôs sensacionais, agora é só uma paródia do Smeagol, tem um jeito histérico, sadomasoquista, agindo como um escravo e sendo tão inútil que eles precisam sequestrar a Coco para criar um robô!

Uka Uka e Aku Aku perderam o design icônico de máscaras e ficaram bem feios, Uka Uka no caso não lembra o antigo em nada. Ainda por cima Uka Uka não bota mais medo em ninguém (ele chega a receber ordens da Nina!) e parte dos diálogos de Aku Aku são piadas de que ele não têm um corpo.

Sério, a ideia de humor desse jogo é terrível. Um monte de piadas muito infantis misturadas com referências sexuais forçadas, paródias e trocadilhos. Crash 3 tinha fases com trocadilhos e referências, mas qualé, "The Temple of Zoom"? "Don't Eat the Yellow Brick Load"? "LIFE'S A BEACH"???

Mas o pior caso de todos os redesigns e mudanças no comportamento é o Tiny Tiger.

Ele passou de um grandalhão pouco inteligente e super feroz, doido para estraçalhar Crash, para um tigre engomadinho de voz fina e irritante que odeia violência e se rende ao Crash sem lutar. Nem mesmo a espécie dele os caras respeitaram, passando de um tigre da Tasmânia para um tigre comum!

Digo, se você vai fazer um personagem que  não tem nada em comum com o antigo, por que não criar um novo? Por que distorcer um personagem que já é querido pelos fãs? Mudanças como essa fazem parecer que eles estavam estragando as coisas propositalmente, de tão ruins que são.

E eles têm vários dubladores bons em seu elenco, incluindo Lex Lang (que fez o Cortex em Twinsanity) e Nolan North (que fez gazilhões de personagens diferentes). As vozes deles são excelentes e eles entregam muito bem as falas, mas sem um roteiro decente é difícil conseguir alguma coisa.


No gameplay também tivemos muitas mudanças, ainda mais drásticas que nos personagens.

A maior parte do tempo é gasta no controle dos titans, onde o jogo foca no combate num estilo beat'em up e deixa de lado qualquer coisa que se pareça com um jogo de plataforma - os titans nem mesmo pulam!

Existem 15 tipos diferentes, variando entre porcos-espinhos, morcegos, misturas de rinoceronte com tatu, escorpião com gorila e até tartarugas com poderes de fogo e ratos com poderes de gelo. Alguns deles se parecem muito, mas ainda assim é uma boa variedade.

Os controles são bem simples, muitos titans não possuem combos e ficam presos na repetição de um simples golpe, enquanto os que possuem não passam dos três golpes consecutivos. A maioria dos inimigos é vencida com poucos golpes mesmo, então podemos dizer que o combate funciona para o que o jogo exige, mas seria muito melhor ter movesets mais complexos e desafios que exigissem isso, pois o combate se torna bem repetitivo e a culpa definitivamente não é do jogador.


Ainda assim alguns titans são divertidos de controlar. Espécies mais velozes como o Ratcicle e o Battler fluem bem no combate e rolar por aí com um rinoceronte-tatu-bola é uma coisa inusitada.

Uma ideia interessante que conseguiram implementar bem é um tipo de cadeia alimentar entre os titans. Crash consegue enfraquecer um titan menor facilmente, mas só conseguimos pegar um dos grandes com outro titan, então temos que passar por etapas para derrotar certos chefões.

E podemos controlar até os chefões, incluindo uma versão monstruosa de Uka Uka e um robô aracnídeo da Nina, o que é um detalhe bem bacana também.


Enquanto não estamos com os titans o jogo segue um estilo mais tradicional, com Crash correndo, pulando e escalando coisas para atravessar o cenário.

Essa parte é a forma do jogo se manter um pouco fiel à base estabelecida da série, mas é feita de uma forma tão superficial que não satisfaz nem um pouco os fãs de longa data. Os caminhos não exigem pulos precisos ou movimentos rápidos, parece que são apenas distrações para deixar o caminho entre as seções de combate mais variado.

É como um God of War, por exemplo. Você pula por aí com o Kratos, escala coisas, anda em espaços super estreitos e etc, mas é evidente que essa não é a essência do jogo e você nunca vai considerá-lo como um jogo de plataforma. E os fãs de Crash logicamente querem um bom jogo de plataforma, então ver que a série perdeu esse aspecto é bem decepcionante.

Aliás, mesmo com um level design tão simples a câmera ainda consegue ser um problema. Ela voltou a ser fixa e às vezes fica num ângulo estranho, o que pode dar uma ideia errada de como atravessar o obstáculo.

E vale mencionar que o jogo é muito linear, diria que ainda mais que os originais do PS1. Lá tínhamos pelo menos o desafio de quebrar todas as caixas, encontrar passagens secretas e coletar gemas, já os colecionáveis e desafios de Crash of the Titans são bem sem graça e não nos motivam a passar mais tempo com o jogo.


Enquanto jogamos com o Crash também existem momentos de combate. Neles o clássico giro já não é mais o golpe principal, aparecendo apenas como um especial, e no lugar temos socos e chutes.

Esse gameplay segue um estilo parecido com o dos titans, só que mais ágil, afinal Crash é muito mais leve, mas também um tanto sem propósito, pois matar os inimigos menores geralmente não é necessário e nem dá grandes recompensas para o jogador.

Nos capítulos finais do jogo eu comecei a passar batido pela maioria deles, principalmente porque eram muitos e eu já não estava mais com paciência para bater em todos.

Diria que as partes que mais me fizeram sentir "jogando um Crash Bandicoot" são as que usamos Aku Aku como uma prancha para deslizar pelo cenário, de uma forma parecida com os níveis de animais e do "humiliskate" de Crash Twinsanity, mas mesmo elas sofrem por serem simples demais.


Artisticamente o jogo tem muitas decisões questionáveis, mas tecnicamente é muito bom. Os personagens são bem modelados e bem animados, a iluminação realça muito bem as cores dos cenários e o jogo tem muitos efeitos bacanas, como os poderes elementais de certos titans.

E devo dizer que alguns titans têm designs bem legais, com corpos desproporcionais e características exageradas. Os Ratcicles e Spikes, por exemplo, até lembram o estilo cartunesco que os primeiros jogos davam aos personagens grandões como Koala Kong e Tiny Tiger.

É bem irônico que o próprio Tiny Tiger esteja destruído nesse jogo, mas de qualquer forma diria que eles escolheram um estilo bacana para os titans.

A trilha sonora também é boa, por mais que não se compare aos jogos anteriores. Tem um estilo mais tribal, assim como os designs, mas funciona bem e no geral é boa de se ouvir.


Mas uma novidade bem interessante que Crash of the Titans traz é um modo co-op, permitindo que dois jogadores passem todo o modo campanha juntos.

Afinal, se eu vou sofrer ao ver meu mascote favorito do PS1 sendo massacrado por um novo estúdio, é bom que eu tenha um amigo junto para sofrer comigo!


VEREDITO

PONTOS POSITIVOS
• Gráficos caprichados

• Titans mais ágeis são divertidos de controlar
• Sistema de "cadeia alimentar" é bem interessante
• Modo co-op é uma ótima novidade

PONTOS NEGATIVOS
• Perdeu muito da essência da série

• Personagens sofreram muitas mudanças, tanto no design como na personalidade
• Desafios secundários não prendem nossa atenção
• Seções de plataforma são bem básicas e ainda sofrem com a câmera
• As tentativas de humor na história são péssimas
• Os titans têm poucos golpes, tornando o gameplay repetitivo

Na minha memória Crash of the Titans era um bom jogo e um péssimo Crash, mas depois de jogar novamente percebo que ele é um péssimo Crash e um jogo apenas mediano. Ele tem algumas ideias interessantes, mas falta profundidade nas mecânicas, e mudar tanta coisa icônica da série decepciona quem é fã desde a época do PS1, algumas mudanças são simplesmente imperdoáveis.

Se todo esse conceito fosse usado para criar um jogo totalmente novo acredito que ele seria lembrado com mais carinho, mas certamente não teria alcançado tantos jogadores, então foi um risco que a Activision tomou. Ele poderia ser lembrado como um jogo bacana e meio obscuro, mas acabou sendo apenas um capítulo decepcionante na saga de um personagem que já era querido pelos jogadores.

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