Streets of Rage 4


Como um fã de jogos antigos, é normal olhar para certos jogos e séries, considerá-los uma relíquia perdida no passado e que não existe a menor chance de ver um retorno. Streets of Rage era esse tipo de série para mim, então foi com uma surpresa gigantesca que eu ouvi o anúncio do quarto jogo (que aconteceu bem no meu aniversário, por coincidência!).

Ora diabos, uma continuação depois de ficar abandonada por mais de 20 anos! Parece que a Sega finalmente recuperou o juízo!

Fiquei na expectativa, joguei a trilogia original um pouco mais enquanto esperava e agora o jogo finalmente está entre nós, então é hora de analisar esse grande retorno!

Streets of Rage 4

Desenvolvedora: Lizardcube / Guard Crush

Lançamento: 2020

Plataformas: PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC



O que mais chama a atenção ao ver Streets of Rage 4 pela primeira vez é sem dúvida o visual, afinal é onde o hiato de 26 anos mais afetou a série. O jogo está absurdamente lindo!

Os personagens e inimigos são grandes na tela, têm um acabamento num estilo desenho muito bonito e animações que fluem de forma muito natural, o que fica bem evidente nas roupas dos personagens, que balançam de acordo com cada movimento. Até diria que algumas características do design dos personagens foram feitas com isso em mente, como a jaqueta da Blaze (em adição ao cabelo já esvoaçante) e a blusa amarrada na cintura do Axel.

Os cenários também estão excelentes. Cheios de detalhes, não ficam reutilizando elementos e combinam perfeitamente com o estilo dos personagens, criando uma bela harmonia. Os temas das fases também são ótimos, incluindo uma delegacia de polícia, um Chinatown, uma galeria de arte e até um avião em pleno ar, sendo que a equipe conseguiu muito bem dar vida a cada um deles.

O estúdio simplesmente acertou em cheio em toda a direção artística, evitando o tom realista e sério demais (ou até mesmo gráficos em 3D), que não combinaria com a ação exagerada da pancadaria, e evitando também o pixel art mais retrô, que tiraria do jogo o avanço mais gritante que ele poderia ter.

O visual que temos é detalhado, limpo, animado de forma excelente e consegue muito bem representar o estilo característico da série em HD!


A trilha sonora também é espetacular e vai agradar qualquer fã da série. Foi composta por uma equipe de cinco músicos, sendo que Yuzo Koshiro, o compositor da trilogia original, é um deles.

Ela segue um estilo parecido com os dois primeiros jogos, afinal já era um dos pontos mais aclamados da série e não precisava de melhorias, mas com a capacidade das gerações atuais é óbvio que o arranjo das músicas é muito mais complexo, com mais instrumentos e o resultado é simplesmente admirável.

Até existe a opção de trilha sonora retrô, que substitui tudo pelas músicas clássicas, e é de fato um extra bem legal pela nostalgia, mas não cometa o erro de trocar logo de cara, pois perder a música criada para esse jogo seria um grande desperdício.


Mas falemos do gameplay, que é o que mais interessa!

Se você considera o segundo jogo como o melhor da série pode comemorar, pois é evidente que os desenvolvedores de SoR4 também têm uma preferência por ele e criaram um gameplay que passa uma sensação bem parecida, embora traga algumas novidades.

O maior fator para essa sensação a la SoR2 é que as corridas do SoR3 não estão mais presentes em todos os personagens, apenas na Cherry, que é quase o "Skate" do novo jogo, e numa escala menor no Adam, que finalmente volta depois de ficar ausente por dois jogos!

Os movesets novos estão ótimos e o jogo nos incentiva a tentar os maiores combos possíveis. Com poucos inimigos já dá para alternar entre eles e conseguir dezenas de hits em sequência, o que é uma coisa extremamente divertida. Jogando pela primeira vez não me importei muito com isso, apenas segui tentando não apanhar, mas conforme você pega o jeito é viciante encaixar essas sequências, sendo uma das partes mais legais do jogo.

Aliás, é possível continuar batendo num inimigo enquanto ele está caindo. Jogar um inimigo contra uma parede (ou mesmo o limite da tela) e encaixar mais um punhado de golpes é ótimo!


Outro sistema que acho muito bem implementado é o das armas, diria que o melhor que já vi num beat'em up!

Primeiro que temos uma grande variedade delas, desde os clássicos canos, facas e garrafas (sim, elas voltaram!) até tacos de bilhar, tasers, cutelos, cassetetes, maças, um rodo e até a carcaça de uma moto! Oras, é um arsenal bem criativo!

Também podemos arremessar as armas contra os inimigos e pegá-las de volta depois de acertarem o alvo. Em muitas situações isso se torna uma vantagem maravilhosa, já que podemos atingir os inimigos de longe e continuar com a arma mesmo depois disso.

Uma coisa menor, mas que também faz a diferença, é que podemos levar as armas de um cenário para outro, enquanto nos jogos anteriores o personagem automaticamente abandonava a arma.

Aliás, acho que é comum o costume de deixar itens de saúde para pegar no último momento possível, para garantir que não vamos levar mais dano, e sempre odiei o fato de que geralmente somos obrigados a prosseguir assim que acabam os inimigos, ignorando qualquer item restante. Aqui isso não acontece e podemos vasculhar o cenário por quanto tempo quisermos antes de continuar. Outro ótimo detalhe!


O sistema de especiais também tem novidades! Aqui os especiais tomam um pouco da nossa barra de vida, mas é possível desfazer o estrago batendo nos inimigos logo depois. Se formos golpeados antes disso, entretanto, o dano na nossa vida é definitivo.

Também temos especiais ainda mais fortes, que são limitados ao uso de estrelas coletadas durante o jogo. É normal guardá-los para os chefões, ou mesmo não usá-los para receber alguns pontos extras na contagem da fase.

Gosto bastante do sistema do terceiro jogo, mas esse também é muito bom e a variedade de opções acaba deixando tudo ainda melhor.


Existe apenas um ponto do gameplay que eu diria que podia ser melhor, que é a parte dos personagens.

No começo temos quatro jogáveis: Axel e Blaze retornando dos jogos passados e Cherry Hunter e Floyd Iraia como novos personagens. Depois liberamos Adam Hunter e a partir daí só restam as versões clássicas, trazidas diretamente dos jogos anteriores com seus sprites (que não combinam com o resto, mas não chega a ser um problema) e movesets.

Eu honestamente esperava alguns a mais. Digo, no próprio jogo temos Max e Shiva e eles poderiam muito bem ser jogáveis, por mais que exigiriam um trabalho a mais da equipe para completar os sprites. Estel, a chefe de um dos níveis, também faria sentido entre os principais depois de zerar o jogo, e ainda tinha a esperança de jogar com Victy, o canguru, depois de vê-lo no balcão do bar de motoqueiros. Ora bolas, seria divertido!

Mas de qualquer forma os personagens que temos são caprichados, tanto nos movesets como nas diferenças entre as jogabilidades, então pelo menos a equipe fez muito bem aquilo que se propôs a fazer.

E a variedade de inimigos também é boa. Temos muitos inimigos retornando dos jogos passados, mas que até parecem novos com a atualização nos visuais, e alguns realmente novos bem bacanas, como os policiais com escudos ultra tecnológicos. Cada um ataca de uma forma e exige estratégias específicas, o que torna os combates bem interessantes.


E falando em personagens, finalmente temos um jogo da série sem a presença do Sr. X! Parece que destruir o cérebro dele dentro de um pote finalmente deu um jeito no velho!

A história se passa 10 anos depois dos eventos do SoR3 (tanto que Axel está bem diferente, embora pareça que nem mesmo um dia se passou para a Blaze) e agora o novo sindicato do crime é comandado pelos filhos do Sr. X, os "Gêmeos Y".

Os dois podem até parecer inofensivos à primeira vista, mas têm um império do crime ainda maior que o do falecido e ainda planejam fazer lavagem cerebral em toda a cidade com um show de música hipnótica. Um plano digno de super vilões, sem dúvida.

A história é bem básica e caricata, mas ninguém é fã da série por sua trama, então acredito que ninguém esperava coisas muito elaboradas. As cutscenes entre as fases são rapidíssimas e assim todo o nosso tempo é realmente gasto socando meliantes pela cidade.


O jogo é curto (talvez a única característica clássica que poderia ter sido deixada para trás), com cerca de três horas na campanha principal, mas compensa pelo fator replay.

Temos cinco dificuldades, desde a fácil até a "Mania", que é infernalmente injusta e o próprio jogo admite, afinal sinceridade é crucial numa relação!

No modo história as vidas valem para cada fase e um game over apenas nos leva de volta ao seu começo, mas também existe um modo arcade, que incorpora mais a fundo o espírito old school e nos dá apenas um crédito para vencer, sem saves ou continues.

Essas variações fazem com que o jogo continue oferecendo desafio, mesmo para os jogadores mais dedicados.


Streets of Rage 4 não é só um excelente retorno para a série, mas também uma carta de amor para toda a era dourada dos beat'em ups, mostrando que o gênero ainda é muito capaz de divertir. As novidades que ele traz são sutis e no geral ele segue os padrões do gênero, mas faz isso muitíssimo bem e vai agradar bastante qualquer fã das pancadarias.

E ele é um belo equilíbrio entre o clássico e o atual, conseguindo evocar uma sensação completamente nostálgica sem parecer um jogo datado e sem apelar para gráficos pixelizados.

Eu espero de coração que esse jogo seja um grande sucesso de vendas e abra espaço para o retorno de outros grandes beat'em ups. Imagine só se Golden Axe, Final Fight ou Comix Zone recebessem o mesmo tratamento! Seria o máximo!

PONTOS POSITIVOS
• Direção de arte, gráficos e animações excelentes
• Ótima trilha sonora
• Ótimos movesets e combos viciantes
• Armas variadas e muito boas de se usar
• Inimigos variados que exigem estratégias diferentes
• Desafiador e com um fator replay bem alto


PONTOS NEGATIVOS
• Esperava mais personagens desbloqueáveis além dos retrô
• Modo história é curto

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