InFamous


Já tivemos um bocado de jogos baseados em super-heróis dos quadrinhos desde o começo da indústria de games, mas sabe o que quase não temos? Super-heróis originais!

A gente salva o mundo dezenas de vezes, seja com um ouriço super veloz ou com um ninja chinês criogênico, mas quase nunca vemos jogos que adotam o estilo característico das histórias de super-heróis para um personagem criado totalmente do zero.

Então foi interessante ver quando a Sucker Punch (criadora da adorável série Sly Cooper) decidiu que sua próxima IP seria de um maluco pulando pelos telhados de uma cidade, soltando faísca pelas mãos e batendo em bandidos.

Só faltou uma roupa apertadinha, mas sem dúvida essa foi uma boa decisão!

Particularmente, InFamous foi uma das séries que era muito fã durante o PS3 e Second Son foi o título que me fez comprar o PS4, mas depois de ir para o segundo jogo fiquei muito tempo sem me importar em voltar ao primeiro, então é hora de ver como ele está depois de mais de 10 anos! Sigam-me os bons!

InFamous

Desenvolvedora: Sucker Punch

Lançamento: 2009

Plataformas: PlayStation 3



Nossa história começa numa noite aparentemente comum, que é interrompida por uma explosão gigantesca. Um bairro inteiro de Empire City é destruído e milhares morrem, mas bem no centro da cratera nosso personagem, Cole MacGrath, misteriosamente sobrevive. Cole era um entregador e estava simplesmente fazendo mais uma entrega, mas não imaginava que o pacote que levava consigo era uma bomba.

Mas sobreviver à explosão não foi a única coisa misteriosa que aconteceu com Cole nesse dia, pois ao vagar pelo local ele começa a absorver eletricidade e ficar totalmente eletrificado, mas sem sofrer nenhum dano.

Ele eventualmente percebe que adquiriu super poderes (sendo um tipo especial de humano chamado de "conduíte") e que a explosão não foi um simples ato terrorista que por acaso estava em suas mãos, mas sim uma conspiração envolvendo uma sociedade secreta e um homem misterioso chamado Kessler.


Depois disso tudo, Empire City simplesmente foi para o inferno. O governo colocou a cidade em quarentena, a comida se tornou escassa e gangues passaram a dominar os bairros da cidade, tomando tudo que desejavam e escravizando a população indefesa.

Como Cole, temos então a liberdade de tentar salvar o que restou de Empire City, afastando as gangues e trazendo um pouco de paz à população, ou buscar apenas o benefício próprio e deixar a situação ainda pior do que estava.

Essa é uma das características mais faladas no marketing do jogo e de fato é uma parte bem bacana, mas devo deixar claro que se você espera um sistema extremamente profundo vai se decepcionar. Quando eu jogo um Fallout, por exemplo, eu fico seriamente em dúvida do que escolher em vários pontos da história, mas em InFamous as decisões são bem preto no branco (ou vermelho no azul, como o jogo prefere usar) e você simplesmente vai escolher aquilo que condiz com o caminho que você decidiu no começo do jogo.

Mas é exatamente isso que o jogo quer, não é como se ele almejasse algo mais complexo e falhasse na missão. Existem os níveis de herói e vilão e se você ficar oscilando nas escolhas não vai evoluir da forma certa. Então nada de ser moralmente cinza, se você escolheu o lado mal da força não hesite em chutar pessoas moribundas na rua, mesmo que não tenha nada para justificar tal ato!

Existem algumas decisões bem imbecis, como escolher um cartaz que vão espalhar pela cidade, mas também temos situações que realmente são mais pesadas e únicas, principalmente perto do final do jogo. Mesmo que a gente não fique na dúvida do que escolher, elas conseguem nos afetar de certa forma.


E a história é muito bem feita, principalmente para um herói criado do zero.

Cole MacGrath não esbanja carisma, mas tem um drama bem trabalhado e é o tipo de herói que realmente tem motivos para desejar nunca ter recebido poderes, pois tudo aconteceu através de uma tragédia e o mundo ao seu redor passa a desmoronar a partir do dia em que ele recebe os poderes.

E Kessler é um vilão sensacional, seus planos e motivações são impressionantes e seu modo de agir é sinistro. Ele facilmente está entre os antagonistas mais marcantes daquela geração. Os vilões menores também são bacanas e todo o mistério envolvendo a explosão e a fonte dos poderes dos conduítes é bem interessante, então o jogo consegue nos envolver muito bem com sua história.

Acho que o desenrolar da história e as ações de Cole são bem mais interessantes no lado bom, mas os pontos principais da história estão presentes nos dois lados, então os dois agradam.


Mas falemos da jogabilidade, afinal Cole recebeu poderes e agora pode disparar bolas de eletricidade com as mãos!

Na maior parte do tempo o jogo é um tipo de shooter em terceira pessoa, com a única diferença que não temos armas, afinal elas não são necessárias. No nosso golpe mais básico atiramos pequenas esferas eletrificadas, mas logo podemos atirar granadas, ondas de energia, esferas explosivas e até mesmo um relâmpago gigante na cachola de todos os inimigos à nossa frente.

O combate já é divertido no começo, pois Cole é ágil e flui bem nos movimentos, mas com o arsenal completo fica ainda melhor, a Sucker Punch criou várias funções para os poderes elétricos e temos habilidades bem versáteis, deixando a experiência extremamente satisfatória.

Cada poder gasta uma porção da nossa energia e se ela acabar ficamos restritos aos tiros comuns, mas podemos recarregar em qualquer ponto de eletricidade do cenário, como postes, geradores e até carros.

Também temos opções de combate mano a mano, mas elas não são eficazes como os tiros e nem muito legais de usar, pois não aproveitam bem os poderes e nem sempre funcionam como esperamos. Em partes mais avançadas do jogo é praticamente suicídio partir pra isso, pois os inimigos vêm aos montes e são bem certeiros nos tiros, ser alvejado loucamente enquanto lida com um só inimigo é uma péssima ideia.


Os dois caminhos que podemos seguir influenciam muito a jogabilidade. Além de certos upgrades específicos, a jogatina maligna é muito mais caótica, afinal não estamos nem aí com a segurança dos cidadãos de Empire City, o que muitas vezes pode tornar as coisas mais divertidas. Você atira como se não houvesse amanhã, joga carros pra cima dos inimigos e explode tudo sem pensar nas consequências.

Sempre que eu jogo um InFamous eu sigo primeiro o caminho da bondade e depois vou para o mal, o que provavelmente é o mais comum entre os jogadores. Se fosse para recomendar o caminho para uma só jogatina seria o caminho bom, pois é o canônico e realmente tem uma história mais bacana, mas se você gosta de criar o caos nas ruas (e ORA BOLAS, QUEM NÃO GOSTA?) o caminho do mal provavelmente vai ser bem mais divertido.


O jogo tem três principais facções inimigas, cada uma delas liderada por um conduíte diferente e com tipos diferentes de soldados, incluindo variações bem interessantes, como golens de sucata e carinhas que projetam versões holográficas gigantes de si mesmos.

Não me importei muito com isso na época em que joguei pela primeira vez, mas depois de jogar Second Son, que só tem um tipo de inimigo no jogo todo, essa acaba sendo uma característica positiva.

Sério, passar o jogo todo matando variações de caras cimentados? Uma hora isso perde a graça, Sucker Punch!


Outra parte legal dos poderes é o papel deles na locomoção pela cidade. Antes de ganhar poderes Cole já era hábil no parkour, então podemos escalar qualquer prédio da cidade rapidamente, mas com os poderes podemos deslizar pelos cabos de energia, pelos trilhos dos trens e ainda planar durante as quedas.

E claro, podemos cair de qualquer prédio sem sofrer um arranhão. Assim é até fácil praticar parkour, não?

Se você já jogou InFamous Second Son, Saints Row IV, Spider-Man do PS4 ou algo do tipo vai perceber que esse sistema de locomoção já não oferece nada de excepcional e já parece um tanto lento, mas na época eram poucos jogos que ofereciam tais coisas, então realmente era uma característica bem bacana.

Aliás, ao recomeçar o jogo para ir pelo outro lado da força é comum ficar incomodado com a falta de certos poderes que ganhamos durante a história, pois eles deixam tudo bem mais prático e agradável. Como a ideia é que joguemos duas vezes acredito que seria uma boa ter um "New Game +", levando os poderes mais básicos para a nova rodada, mas é a única coisa que eu mudaria.


Visualmente, a parte que mais brilha (literalmente, no caso) são os efeitos de eletricidade. Os nossos tiros eletrificados se espalham com o impacto, envolvendo o inimigo ou eletrificando objetos inteiros, o que é um efeito bem bacana. O jogo geralmente é escuro, então isso acaba realçando ainda mais nossos poderes.

Mas em outros pontos os gráficos decepcionam. Serrilhados, pop-ins e bugs na detecção de colisão são comuns, os cenários não têm tantos detalhes quanto deveriam e o uso das cores é ruim. Empire City tem um estilo sombrio e cinzento, quase como uma Gotham City, mas isso não funcionou tão bem quanto eles gostariam e acaba sendo apenas um cenário sem vida.

Poderia dizer que é algo que funciona bem nos quadrinhos, mas não em um jogo, mas a série Arkham está aí para provar o contrário.


Também dá para notar claramente que a Sucker Punch ainda não tinha pego o jeito na criação de humanos, afinal o histórico deles era com a série Sly Cooper, com um estilo cartunesco e personagens animais, então várias reações e expressões faciais dos personagens são artificiais e mecânicas.

A movimentação na parte da ação é boa, felizmente, então Cole se move naturalmente e os inimigos também convencem, o problema mesmo é nas cutscenes, quando o jogo tenta passar emoções. A dublagem é boa, mas o visual não consegue acompanhar.

Mas, por falar em cutscenes, nem todas são feitas in-game: as mais importantes são animadas num estilo que imita histórias em quadrinhos e são impecáveis, combinam perfeitamente com o estilo do jogo e impactam bem mais o jogador.

E, por fim, a trilha sonora também é boa, geralmente com músicas pesadas que combinam muito bem com a narrativa. Não são do tipo que ficam na sua cabeça depois, de forma alguma, mas complementam o clima dramático do jogo.


As partes mais exaltadas de InFamous durante seu lançamento não são impressionantes hoje como eram na época, mas ele continua sendo uma boa experiência.

A jornada de Cole é fantástica e ao olhar a história depois de saber todos os detalhes não há como não tirar o chapéu para a Sucker Punch pelo que fizeram.

A diversão e praticidade dos poderes não vêm por completo logo de cara, então o começo do jogo pode se arrastar um pouco para quem já jogou títulos mais recentes, mas conforme evoluímos o gameplay vai ganhando complexidade até se tornar bem divertido.


PONTOS POSITIVOS
• Ótima história
• Um dos melhores vilões daquela geração
• O combate com os poderes é divertidíssimo
• Poderes são bem implementados na locomoção pela cidade
• Escolher entre ser herói e vilão é muito bom
• Caos da jogatina maligna diverte bastante


PONTOS NEGATIVOS
• Gráficos desinteressantes e com vários problemas técnicos
• Combate mano a mano deixa a desejar
• O ritmo do jogo envelheceu mal em certos pontos

Comentários