BioShock


Fases aquáticas têm uma longa reputação de serem chatas e ruins de se jogar, mas existe outra característica desses cenários que nem sempre é lembrada: eles podem ser assustadores!

A vulnerabilidade do personagem, que se move mais lentamente enquanto o inimigo provavelmente está se sentindo em casa, a falta de iluminação quando mergulhamos muito fundo e até mesmo a necessidade de voltar para a superfície para respirar, são ingredientes bem capazes de causar um certo desespero. Dá para lembrar desde a música de afogamento do Sonic e a enguia gigante do Super Mario 64 até o tubarão de Tomb Raider 2 e o colosso Hydrus de Shadow of the Colossus.

BioShock é outro jogo que consegue extrair um tom bem sinistro do seu cenário submarino, com a diferença de que basicamente todo o jogo se passa debaixo d'água e o tom sinistro nos persegue a todo momento!

E olha que a única parte em que o protagonista precisa nadar ou se preocupar com oxigênio é na introdução!


BioShock

Desenvolvedora: 2K Boston / 2K Australia

Lançamento: 2007

Plataformas: PC, Xbox 360 e PlayStation 3



O nosso protagonista - um rapaz chamado Jack - é um baita azarado, pois já começa o jogo sofrendo um acidente de avião no meio do Oceano Atlântico. Ele sobrevive e percebe um farol ao lado do local do acidente, o que parece ser pelo menos um pouco de sorte na sua vida, mas então tudo desanda novamente, pois esse farol é a entrada de Rapture, onde vai ser ainda mais difícil sobreviver.

Rapture é uma cidade construída no fundo do oceano. Seu criador, o magnata Andrew Ryan, queria um paraíso onde os mais notáveis da sociedade poderiam viver sem a presença daqueles que ele considerava "parasitas", como o governo e a igreja. Seus cientistas, artistas e inventores não seriam limitados pelas regras e pela moralidade da superfície e assim eles criariam uma civilização muito mais avançada.

A cidade ficou pronta nos anos 50, foi populada pelos cidadãos que Ryan considerou merecedores e nos anos seguintes realmente deu origem a vários avanços tecnológicos e científicos, sendo o maior deles o ADAM, uma substância capaz de alterar o DNA de uma pessoa e basicamente lhe conceder super-poderes, chamados aqui de "Plasmids".

Mas, como toda utopia, eventualmente as coisas começaram a dar errado. O ADAM deixou as pessoas viciadas, as levou à loucura e logo a cidade caiu no caos, com a população se matando em busca da substância.


E é nesse caos que o nosso protagonista entra.

Ao chegar em Rapture, Jack é contatado por Atlas, um morador que está desesperado para escapar da cidade com sua família e oferece ajuda, e também pelo próprio Andrew Ryan, que não gosta nem um pouco dessa visita e está disposto a fazer o possível para se livrar do intruso.

No começo é apenas uma questão de sobrevivência, mas logo ele se vê envolvido em coisas muito maiores e decisões que precisam ser feitas: no meio da população enlouquecida existem as "Little Sisters", garotinhas sinistras que vagam procurando cadáveres e que podemos tanto salvar como matar.

Mas não antes de enfrentar os "Big Daddies", brutamontes altamente armados com roupa de mergulhador que protegem essas garotinhas e são inimigos bem respeitáveis, além de muito icônicos!


Matar as Little Sisters nos permite extrair todo o ADAM que elas carregam, o que é necessário para a evolução do personagem. Ao salvá-las ainda conseguimos extrair ADAM, mas numa quantidade menor.

Apesar que de vez em quando recebemos uma porção da substância (e outros presentes) como agradecimento de uma cientista que quer salvar as garotinhas, o que equilibra mais as coisas e deixa essa decisão mais para o lado moral mesmo.

Eu - que jogo o lado mau de InFamous torrando os pedestres com um sorriso no rosto - salvei todas e vou salvá-las novamente quando a repetir a jogatina no futuro! Ora bolas, garotas zumbis fofinhas! Como poderia matá-las?


Algo que BioShock faz de maneira puramente magnífica é sua atmosfera, é o ponto mais marcante de todo o jogo.

Rapture é um local claustrofóbico. Tudo é escuro, silencioso, pelas janelas só podemos ver o fundo do oceano e saber que um inimigo insano pode estar esperando no próximo corredor também não ajuda em nada. O jogo não chega a ser de terror, mas passa perto e sempre carrega um ar tenso e pesado que é difícil de ignorar, eu ficava bem apreensivo ao explorar locais novos, principalmente no começo da história.

O departamento sonoro também tem grande mérito nisso. Às vezes ouvimos ruídos de outros locais ou mesmo os inimigos falando, o que nos perturba um pouco enquanto não sabemos de onde eles vêm. A trilha sonora também é fenomenal, combinando algumas músicas típicas dos anos 50 com músicas originais carregadas de suspense.

Na verdade mesmo as músicas dos anos 50 ficam meio sombrias quando são colocadas no ambiente do jogo!


E Rapture também tem personalidade, uma história rica em detalhes e até mesmo um contexto filosófico e crítico, o que rende diversas frases e conversas muito interessantes.

Eu acredito que exploraria os cenários de qualquer forma, simplesmente para encontrar coisas úteis, mas com um cenário desses é muito mais prazeroso, a vontade maior é de conhecer mais da cidade, pois ela é fascinante.

Aliás, algo legal é que o jogo quase não tem cutscenes, geralmente os acontecimentos se desenrolam na nossa perspectiva e mesmo a história da cidade é contada através de gravações encontradas pelo cenário. Isso deixa a imersão ainda mais forte!


O jogo é um FPS, então naturalmente recebemos várias armas ao longo da história, desde pistolas até lança-granadas, mas o diferencial aqui são os Plasmids. Tudo bem que o ADAM é justamente o que levou todo mundo à loucura, mas Jack precisa sobreviver, então é um uso necessário.

Os poderes dados pelos Plasmids são bem variados, incluindo eletricidade, fogo, gelo, telecinese e até a possibilidade de lançar um enxame de abelhas para cima dos inimigos.

Até é possível aproveitar do cenário, como eletrocutando uma poça de água e fritando qualquer inimigo presente ali no processo! Ora bolas, isso é divertido demais!


Mas honestamente existe algo que me incomoda no combate de BioShock.

Talvez seja a transição entre as armas e os Plasmids, que poderia ser mais prática, ou mesmo a forma de movimentação dos inimigos, que não é muito natural, mas a minha impressão no começo era que os combates sempre acabavam se tornando muito mais caóticos e confusos do que deveriam ser.

Com algum tempo de jogo essa estranheza diminui e o combate se torna mais divertido, mas no começo realmente era um tanto incômodo.

O jogo também tem um pouquinho de RPG, com um sistema de várias habilidades que não podem ser usadas ao mesmo tempo e cabe ao jogador escolher o que é mais valioso. Não é um sistema tão profundo, mas funciona muito bem e deixa o jogo mais interessante.


Devo elogiar também a parte visual, pois o jogo não é obcecado pelo realismo e cria o seu próprio estilo gráfico, que agrada bastante.

As Little Sisters e os Big Daddies são bons exemplos disso. As garotas têm cabeças e olhos maiores que crianças normais, o que realça suas feições, enquanto alguns Big Daddies são grandes ao ponto de se tornarem desproporcionais e até nos deixam curiosos para saber que diabos de figura deformada está por baixo da armadura.

Sem falar que a roupa de mergulhador é um visual espetacular! Oras, o fantasma do capitão Cutler sempre foi meu monstro favorito do Scooby Doo, não foi de se espantar que achei esses grandalhões tão legais!


Os cenários também são bem desenhados e mostram o mesmo talento artístico. A inspiração no  estilo Art déco, mas com um tom mais sombrio e o contexto do fundo do oceano dão um tom muito único ao visual e a equipe caprichou em todos os aspectos.

Existem, por exemplo, propagandas de diversas coisas espalhadas por Rapture, desenhadas ao melhor estilo anos 40/50, e é bem interessante ver o contraste entre elas e o estado atual da cidade.

Para completar, os efeitos também são legais, desde a água infiltrando e fluindo por vários locais da cidade até os elementos diferentes dos nossos Plasmids.


Sinceramente, BioShock é uma obra de arte! É o tipo de jogo que nos faz perceber a capacidade que os games têm de realmente colocar o jogador dentro da história e nos afetar com seus acontecimentos.

Rapture é um conceito absurdo e cheio de coisas além da imaginação, mas é tudo construído e apresentado ao jogador de forma tão genial que logo estamos imersos (trocadilho proposital) nessa cidade.

É uma experiência fantástica e inesquecível que eu recomendaria para qualquer um. Até mesmo para quem não é fã de FPS, afinal não existem muitos jogos do mesmo gênero que possam ser comparados a ele.


PONTOS POSITIVOS
• Atmosfera sinistra e sensacional
• Rapture é um dos melhores cenários dos games
• História fantástica e contada de forma genial
• Ótimos efeitos e trilha sonora
• Gráficos estilizados e com ótima direção de arte
• Os Plasmids são um bom diferencial do gameplay

PONTOS NEGATIVOS
• Combate flui de forma estranha no começo

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